Número 21, outubro 2025

Acessibilidade digital e Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI): A Pessoa em Formação no Centro da Aprendizagem Digital

Outono 2025 - Capa de página inteira

DOI: https://doi.org/10.52358/mm.vi21

Publicado: 2025-10-24

François Hatot, Alain Stockless, Sophie Brière, Baptiste Doucey, Patrick Plante

Esta edição destaca os desafios ligados à acessibilidade digital e à equidade, diversidade e inclusão (EDI) nos contextos educativos. Sublinha-se a necessidade de adaptar a formação aos perfis diversificados dos aprendentes, seja na educação inicial, contínua ou em ambientes organizacionais. Dá-se ênfase à importância de abordagens pedagógicas inovadoras e flexíveis que integrem ferramentas digitais para promover engajamento, motivação e perseverança. A implementação de práticas inclusivas exige novas competências profissionais do pessoal educativo e institucional, levantando também questões de bem-estar no trabalho e de governança. Esta edição temática reúne dez artigos de investigação, cinco contribuições de profissionais e um debate crítico. As investigações abrangem contextos variados — escolas, universidades, estruturas educativas, abordagens nacionais e internacionais —, exploram metodologias diversas e analisam tensões entre a inclusão dos aprendentes e o apoio do pessoal. Os artigos de profissionais trazem perspectivas experienciais do terreno, apresentando estratégias concretas e, por vezes, improvisadas para tornar a educação mais inclusiva. Finalmente, a seção de debate examina os pontos cegos da investigação sobre EDI e acessibilidade, incentivando a ir além das suposições estabelecidas. No conjunto, esta edição oferece um quadro multidisciplinar para refletir sobre os desafios educativos do século XXI.

François Hatot

Este artigo analisa os efeitos das Transformações Pedagógicas e Digitais nas práticas de ensino e pesquisa e na profissionalização de docentes-pesquisadores, a partir de um projeto de acessibilidade digital financiado no âmbito de uma iniciativa governamental. O estudo, baseado em uma abordagem compreensiva e em uma análise temática de narrativas de quatro docentes-pesquisadores, evidencia as (trans)formações (Josso, 2011) geradas por esse processo (trans)formador. Apoia-se na Teoria da Autodeterminação (Deci et al., 2017) e em uma concepção do trabalho que articula dimensões pessoal, impessoal, transpessoal e interpessoal (Miossec & Clot, 2011). Os resultados destacam mudanças pedagógicas concretas: elaboração de roteiros, explicitação dos conteúdos, hibridização e maior atenção à acessibilidade digital. O projeto satisfaz as necessidades de autonomia e competência, mas responde de forma ambivalente à necessidade de pertencimento. Apesar de um forte engajamento individual, o reconhecimento institucional permanece limitado, os apoios coletivos são raros e as tensões organizacionais significativas. Esses limites dificultam a difusão das inovações e enfraquecem a motivação intrínseca duradoura. O artigo defende uma abordagem sistêmica da profissionalização, integrando todas as dimensões do trabalho em uma visão holística. Ressalta a necessidade de um reconhecimento estrutural da acessibilidade digital no ensino como alavanca para a transformação do ensino superior e da pesquisa.

Leïla Bouabdelli

Este artigo analisa a utilização da tecnologia digital nas escolas à luz dos princípios da equidade, diversidade e inclusão (EDI), por meio da implementação da diferenciação pedagógica, e examina em que medida é necessário ter em conta os contributos e os efeitos da tecnologia digital no ensino. Esta investigação analisa as práticas de ensino neste âmbito, nomeadamente no contexto da diferenciação dos materiais didáticos digitais. A revisão da literatura expõe o lugar preponderante da diversidade na educação, a necessidade premente de considerá-la e o impacto da prática do professor na garantia de um certo grau de equidade, nomeadamente através da implementação da diferenciação pedagógica. As ligações são feitas com a tecnologia digital, especialmente pela apresentação de algumas das suas especificidades e limites, das desigualdades que pode criar, o que exige o recurso a modelos teóricos adequados e a tomada em consideração dos perfis dos aprendentes. Analisaremos também o material didático, um dos principais veículos de ensino, e as condições impostas pelo formato digital ao desenvolvimento de materiais utilizáveis e eficazes que não introduzam obstáculos adicionais à aprendizagem. Destacaremos as tendências das práticas atuais à data do estudo e identificaremos os obstáculos ao seu desenvolvimento. Destacamos também a complexidade da diferenciação dos materiais didáticos digitais e os obstáculos à sua implementação.

Matthieu Josselin, Simon Collin, Camille Corfa

Diante da crescente digitalização das universidades e da sobreposição de suas diferentes esferas de vida, estudantes utilizam uma variedade de tecnologias digitais sem que seus usos e efeitos sejam totalmente compreendidos. Embora a digitalização pareça neutra, essa sobreposição de realidades sociotécnicas implica uma série de relações de poder mais ou menos tácitas e esforços associados para estruturar a sua configuração sociotécnica global. A investigação etnográfica longitudinal que explora a gestão e a utilização das tecnologias digitais pelos estudantes permitiu-nos identificar uma tipologia de tensões sociotécnicas que constituem este entrelaçamento tecnológico das suas realidades e constrangimentos. Ao considerar o trabalho digital como uma fonte potencial de discriminação indireta, o artigo pretende tornar visíveis e descrever as relações de poder vividas pelos participantes. Ao problematizar este ponto cego da digitalização das universidades em relação às realidades dos estudantes, apoiaremos a abordagem sociocrítica adotada, explicaremos a utilização da metodologia da teoria fundamentada e o perfil dos estudantes entrevistados. Os resultados proporão uma tipologia de todas as tensões ligadas à negociação do dispositivo sociotécnico e a discussão terminará com uma reflexão sobre a discriminação sistémica indireta subjacente ao trabalho digital tácito dos estudantes contemporâneos.

Laurène Le Cozanet, Serge Ebersold

Perante a crescente diversificação dos perfis dos estudantes, as instituições de ensino superior precisam oferecer um continuum de apoio que lhes permita ser acessíveis ao maior número possível de pessoas, ao mesmo tempo que se adaptam a cada indivíduo (Ebersold, 2024). Na prática, este continuum depende da articulação de três concepções distintas de acessibilidade, que a tornam uma questão de toda a comunidade universitária. Uma concepção universal da acessibilidade toma como ponto de referência os mais vulneráveis e faz da adaptação da universidade à diversidade dos perfis dos estudantes o meio de evitar qualquer necessidade de assistência suplementar. Uma abordagem integrada tem em conta as desigualdades de situação dos estudantes, permitindo ao pessoal oferecer apoio para prevenir qualquer violação da igualdade sem pôr em causa o conteúdo do ensino. Uma concepção expressa modifica o ambiente universitário numa base ad hoc, tendo em conta as dificuldades susceptíveis de serem causadas por um problema de saúde. Este artigo complementa investigações anteriores (Ebersold, 2012; 2017) com dados recolhidos junto do pessoal universitário e dos estudantes com perturbações do espetro do autismo no âmbito do projeto Atypie Friendly.

Isabelle Collet

Os mal-entendidos entre a escola e o digital têm sua origem em uma combinação de fatores, alguns concretos e outros ligados às crenças. Por um lado, a insuficiência de recursos ou a ausência de formação inicial e contínua constituem obstáculos facilmente observáveis e mensuráveis. Esses achados, apoiados por diversos estudos, mostram que, apesar das inúmeras iniciativas governamentais, a integração das tecnologias educacionais na escola continua imperfeita. Por outro lado, as representações relacionadas ao digital na educação reforçam essas dificuldades. Essas percepções precisam ser analisadas sob a perspectiva de gênero, uma vez que o corpo docente, majoritariamente feminino, contrasta fortemente com as profissões digitais, onde as mulheres representam apenas cerca de 17%. A crise da COVID-19 em 2020 forçou os professores a utilizarem o digital de forma emergencial, sem formação ou recursos adicionais, abalando essas representações. O objetivo deste artigo é examinar o que resta das representações de gênero do digital. Dois conjuntos de dados – 1054 questionários e 24 entrevistas semiestruturadas – permitem estudar a evolução dessa relação antes e depois da pandemia. Enquanto os questionários indicam que as mulheres desenvolveram uma relação mais serena com o digital após a pandemia, nas entrevistas elas demonstram dificuldade em se declarar competentes, ao contrário dos homens, mesmo com práticas comprovadas.

François Lewis, Patrick Plante, Daniel Lemire

A utilização de videojogos de ação (AVGs) pode proporcionar benefícios significativos aos alunos disléxicos, melhorando a sua concentração e velocidade de leitura. Além disso, a adição de um método comprovado em reabilitação e personalizado ao aluno aumenta a eficácia da transferência das competências de leitura. Desenvolvemos um videojogo de ação séria (JVAS) que visa aumentar as capacidades dos participantes e, ao mesmo tempo, manter a sua motivação. O nosso artefato é avaliado em quatro critérios principais: velocidade de leitura, redução de erros, nível de atenção e motivação. O nosso protocolo experimental, baseado num estudo de casos múltiplos, integra dados qualitativos e quantitativos, revelando uma melhoria notável nas capacidades de leitura dos sujeitos. Manter a motivação continua a ser difícil.

Hassen Ben Rebah, Marie-France Carnus

Este artigo explora como a relação do estudante com o digital influencia suas práticas de aprendizagem em ambientes híbridos, adotando uma abordagem que integra os princípios de equidade, diversidade e inclusão. Com base em uma epistemologia didática clínica, o estudo examina dois casos contrastantes de alunas matriculadas em um mestrado híbrido que utiliza uma ferramenta inovadora: o Gerador de Espaço Privado de Trabalho (GÉNeSPRIT). Essa ferramenta combina ambientes de aprendizagem institucionais e pessoais, com ênfase em uma abordagem centrada no sujeito aprendiz. Por meio de uma metodologia em três etapas - o já existente, a experiência e o depois - a pesquisa destaca as tensões entre inclusão, flexibilidade e domínio tecnológico. Enquanto uma estudante aproveita as ferramentas digitais para otimizar sua aprendizagem, a outra enfrenta obstáculos relacionados ao desconhecimento dos recursos, o que amplia seu sentimento de isolamento. Os resultados sugerem caminhos heurísticos para a criação de ambientes de aprendizagem mais adaptativos e inclusivos, propondo alavancas didáticas e tecnológicas para fortalecer a acessibilidade e o engajamento dos cursistas em contextos de educação a distância.

Laure Calmelet

No contexto da necessária acessibilidade dos espaços e conteúdos educativos, começaremos por examinar os textos legislativos franceses para identificar certas exigências contraditórias que contêm. Em seguida, analisaremos o potencial oferecido à comunidade de aprendizes pelas ferramentas digitais, no âmbito do design universal para a aprendizagem. Investigaremos se essas ferramentas são reconhecidas pelos professores como recursos capazes de melhorar as condições de escolarização dos alunos com deficiência. Como o apoio dos profissionais é um pré-requisito essencial para a implementação dessas práticas, também analisaremos a recepção da ideia de acessibilidade pedagógica universal. Finalmente, o estudo de um corpus baseado nas respostas de 516 profissionais da educação a uma pesquisa permitirá mostrar que o paradigma integrativo e a ideia de uma resposta necessária baseada na categorização (segundo critérios médicos) sobre como escolarizar alunos com deficiência representam obstáculos importantes à implementação de práticas de acessibilização pedagógica, especialmente por meios digitais.

Héla Oueslati

A integração de tecnologias imersivas e híbridas no ensino do design redefine os paradigmas pedagógicos ao introduzir ambientes interativos que favorecem uma compreensão mais intuitiva de conceitos complexos. A realidade virtual (RV) e a realidade aumentada (RA) oferecem novas formas de aprendizagem, mas sua adoçãoapresenta desafios de acessibilidade e inclusão, questionando os princípios da equidade educacional. A acessibilidade digital não se limita a uma questão técnica; exige uma abordagem inclusiva que considere as diversidades cognitivas, sensoriais e culturais dos aprendentes. Este estudo explora o impacto destas tecnologias na aprendizagem do design, partindo da hipótese de que uma integração reflexiva, combinada a estratégias pedagógicas inclusivas, pode melhorar a eficácia educativa e democratizar o acesso à formação. Foi adotada uma metodologia mista, combinando uma pesquisa quantitativa realizada com 65 professores e 120 estudantes de instituições de design europeias e tunisinas, com entrevistas qualitativas para identificar barreiras e facilitadores da adaptação. Os resultados evidenciam disparidades na adoção dessas ferramentas, ressaltando a necessidade de uma vigilância metodológica e ética para garantir uma apropriação equitativa das inovações tecnopedagógicas e assegurar uma aprendizagem acessível, sustentável e inclusiva.

Fatima Diab, Mourad Majdoub, Catherine Paré, Ayda Sadat Hejazian, Géraldine Heilporn

A integração do digital no ensino secundário tornou-se agora indispensável. No entanto, nem todos os alunos têm as mesmas disposições em relação ao digital nem se beneficiam da mesma forma das tecnologias digitais. Essa disparidade se explica, por um lado, pelas diferenças no uso das tecnologias pelos professores e, por outro, pela diversidade de necessidades e preferências dos alunos. Esta pesquisa tem como objetivo destacar a diversidade de necessidades e preferências dos alunos do ensino secundário no uso do digital, alinhando-se aos princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA). Mais especificamente, este estudo busca compreender e explicar quais usos do digital, adotados pelos professores, favorecem a aprendizagem e o engajamento de um amplo leque de alunos, considerando suas necessidades individuais a partir de uma perspectiva inclusiva. O estudo busca responder à seguinte questão: Quais usos do digital apoiam a aprendizagem e o engajamento dos alunos no ensino secundário, levando em conta a variabilidade das necessidades e preferências dos estudantes? Conduzida sob uma abordagem metodológica qualitativa descritiva, a pesquisa baseia-se em entrevistas individuais realizadas com 17 professores e 40 alunos do ensino secundário, abrangendo uma diversidade de níveis e escolas em Quebec. Os resultados são organizados de acordo com os três grandes princípios do DUA, de forma a destacar as práticas e usos do digital que podem apoiar a aprendizagem e o engajamento de uma variedade de alunos no ensino secundário, a partir de uma perspectiva inclusiva.

Benyoucef Benkouar, Aude Bornil, Kathy Casalino

No contexto do Ensino Superior naFrança, os criadores de conteúdos pedagógicos podem desempenhar um papel fundamental na implementação da acessibilidade digital, essencial para garantir uma pedagogia mais inclusiva. Este artigo analisa uma dessas formações, destinada aos criadores de conteúdos pedagógicos, que confere um diploma em acessibilidade digital. O artigo em questão baseia-se nos percursos de formação de três criadores de conteúdos pedagógicos que partilham suas experiências e perspectivas sobre a aquisição de novas competências em acessibilidade digital. Seus depoimentos ilustram como essa formação influenciou o seu desenvolvimento profissional, ampliando competências atuais ou facilitando transições para novas responsabilidades profissionais. Além disso, este artigo explora as tensões entre as exigências institucionais e legais e os desafios pedagógicos, bem como a necessidade desses profissionais se adaptarem a uma profissão em constante evolução. Situados na intersecção de múltiplos atores, os criadores de conteúdos pedagógicos precisam navegar pelas transformações tecnológicas e novas práticas pedagógicas que surgiram na era digital. Este texto procura destacar os desafios e as oportunidades que a formação em acessibilidade digital traz e ao mesmo tempo sublinha a importância que o trabalho interdisciplinar pode ter para a promoção de uma pedagogia mais inclusiva.

Philippe Godiveau

Vinte anos após a Lei de 2005 sobre a igualdade e cidadania das pessoas com deficiência, este artigo analisa a acessibilidade digital no ensino superior, em particular para os estudantes com transtornos específicos de linguagem. Através do exemplo da Universidade de Orléans, destaca os progressos, mas também as limitações de uma acessibilidade muitas vezes tecnocentrada, ilustrada por escolhas discutíveis. O artigo defende uma acessibilidade ponderada, centrada na experiência do usuário e levando em consideração as necessidades individuais. Ele destaca as tensões entre acessibilidade generalizada e inclusão direcionada, defendendo uma complementaridade entre compensação individual e adaptações coletivas. A reconciliação passa por uma educação para a inclusão de todos os atores universitários, evitando a invisibilização de perfis específicos e garantindo uma acessibilidade equitativa, fundamentada em bases científicas e em mediação humana.

Sophie M. Guerin-Jequier

A consideração da equidade, da diversidade e da inclusão (EDI) no ensino universitário é frequentemente abordada sob dois ângulos distintos: deum lado, a acessibilidade digital dos materiais e, do outro, a transformação das práticas pedagógicas. Este artigo analisa a forma como a utilização de uma cadeia editorial na produção de recursos conduz a uma revisão pedagógica do material e a uma abordagem reflexiva para tornar o ensino acessível. O termo “cadeia editorial” abrange ferramentas que exigem uma separação entre o conteúdo e a forma. As vantagens e desvantagens dessas ferramentas são descritas em maior pormenor para a solução Scenari utilizada neste estudo. A partir de oficinas realizadas a distância ou presencialmente com professores de ciências voluntários, mas em diferentes contextos de produção, examinamos as dificuldades e os benefícios da abordagem adotada, conduzindo a uma melhoria dos meios de comunicação em função de uma melhor inclusão das aulas.

Pierre Lignée

No contexto da educação inclusiva, este artigo apresenta a primeira etapa de uma abordagem exploratória do potencial das ferramentas digitais a serviço das práticas pedagógicas inclusivas. Com base numa metodologia interdisciplinar do tipo Delphi, desenvolve um instrumento de análise com o objetivo de avaliar a pertinência e as limitações dos recursos digitais em contextos inclusivos. Valorizando a heterogeneidade como recurso coletivo, esta pesquisa interroga as práticas educativas por meio de uma abordagem sistémica que favorece a interação entre os atores e a apropriação progressiva das ferramentas pelos professores.

Anna Clavel, Sylvie Catoire

Esta contribuição apresenta um curso de formação para formadores do Institut français de l’Éducation (IFÉ-ENS Lyon) que visa refletir sobre as práticas de avaliação na perspectiva da inclusão e da equidade. O principal objetivo do curso é apoiar os formadores de professores, desde o ensino pré-escolar ao ensino superior, no desenvolvimento de práticas de avaliação somativa mais inclusivas, examinando os princípios da utilização digital e da diferenciação pedagógica. As práticas atuais de avaliação somativa confrontam frequentemente os professores com um dilema profissional: como conciliar as concepções tradicionais de avaliação baseadas na igualdade com abordagens inclusivas baseadas na equidade (Yerly et al., 2024)? Embora a tecnologia digital seja frequentemente vista como uma resposta imediata aos desafios da adaptação da aprendizagem, optamos aqui por abordá-la numa perspectiva inclusiva (Benoit et Feuilladieu, 2017). Esta contribuição defende uma abordagem que não reduz o digital a um instrumento, mas sim o utiliza como um recurso para incentivar uma reflexão aprofundada sobre os objetivos pedagógicos e as barreiras à aprendizagem. Esta abordagem se insere no contexto do Alinhamento Curricular Amplo (Pasquini, 2019, 2021) e do Desenho Universal para a Aprendizagem (UDL) (CAST, 2024), que promovem uma visão sistémica da inclusão.

Cathia Papi, Dominic Thériault

De modo geral, as pesquisas relacionadas com a equidade, diversidade e inclusão (EDI) concentram-se em pessoas com deficiência, minorias étnicas ou culturais, bem como em minorias sexuais ou de gênero. Essas pesquisas seguem a linha das ações que, ao longo do tempo, permitiram às mulheres ocupar seu lugar na sociedade, ampliando o foco para uma maior diversidade de públicos específicos. Homens que não possuem deficiência e que não pertencem a nenhum grupo minoritário são, assim, frequentemente deixados de lado nesses estudos. No entanto, os dados disponíveis mostram que, no ensino superior, eles já não são maioria entre os estudantes há bastante tempo. Por isso, é necessário olhar para o que acontece nas etapas anteriores à educação superior, pois os atrasos e o abandono escolar começam na infância. Isso leva a questionar o papel que a integração de certas tecnologias poderia desempenhar no apoio à escolarização dos meninos. Além disso, veremos que as desigualdades salariais que afetam negativamente as mulheres também podem explicar diferenças na rentabilidade do ensino superior entre homens e mulheres, o que destaca a importância de considerar as relações entre os públicos minoritários tradicionalmente estudados e os demais.