Número 20, abril 2025
Digitalização do trabalho e evolução da formação. Que questões de engenharia da formação e de profissionalização estão em jogo?
DOI: https://doi.org/10.52358/mm.vi20
Publicado: 2025-04-17
Número Completo
Sumário
Éditorial
Resumo
Os avanços tecnológicos e as mudanças econômicas e políticas alteraram a forma como as pessoas trabalham (Labbé e Champy-Remoussenard, 2013; Perreau e Wittorski, 2023). Hoje, por exemplo, as questões da aprendizagem ao longo da vida levam-nos a observar uma transferência progressiva para os cidadãos da gestão dos seus próprios percursos de formação e de emprego. Se a isto juntarmos as inovações ligadas ao desenvolvimento da tecnologia digital, bem como as novas práticas associadas a situações instrumentadas (simulação, realidade virtual ou imersiva, sistemas a distância ou híbridos), temos uma imagem das transformações que regem tanto o mundo do trabalho como o da formação. Para acompanhar esta reflexão e para poder responder às novas exigências com que se depara, o campo da formação reinventa-se repensando a engenharia formativa e educativa de que necessita (Ardouin, 2017; Renier e Guillaumin, 2023; Verquin Savarieau e Papadopoulou, 2023). É por isso que são os próprios conhecimentos e práticas das profissões de formação que iremos examinar, questionando a engenharia que constitui o produto negociado das interações sociais, políticas, técnicas e pedagógicas.
Artículos de pesquisa
Resumo
No contexto da universitária com dupla graduação (Diploma Estadual e Bacharelado Universitário) de formação paramédica e a implementação da experimentação de modalidades que permitem o fortalecimento dos intercâmbios entre os cursos de formação em saúde dentro da Universidade de Caen-Normandia, novos padrões (bacharelado em ciências do cuidado) e modelos de formação profissional são produzidos para seis profissões paramédicas. Uma nova engenharia pedagógica deve ser inventada levando em consideração os novos métodos híbridos de treinamento. Este artigo analisa a engenharia de treinamento posta em prática para o projeto coletivo de um módulo de treinamento dedicado ao raciocínio clínico. O processo de criação e inovação pedagógica empreendido baseia-se nas experiências coletivas de trabalho dos profissionais, para identificar os invariantes da atividade no raciocínio clínico, com o olhar dos formadores, através da identificação de classes de situações emblemáticas dos diferentes campos profissionais e transferíveis para as 6 profissões. A sequência produzida de forma colaborativa leva à encenação de uma situação de trabalho habitual para os profissionais que trabalham, respondendo aos seus desafios de formação: atender o paciente e analisar suas deficiências e/ou necessidades.
Resumo
No contexto dos sistemas de formação híbridos e em sanduíche, a introdução de atividades de ensino à distância dá origem a um novo espaço-tempo de formação, por vezes designado por terceiro espaço-tempo (Papadopoulou, 2020). A eficácia destes sistemas, cujos conceptores procuram sustentar a sua coerência global, baseia-se na estruturação de um sistema de interface. Este sistema organiza as ligações entre os diferentes domínios de formação. Os resultados apresentados mostram que, embora estes sistemas de interface produzam ligações entre o mundo profissional e o mundo académico, continua a ser difícil fazê-los funcionar quando um terceiro espaço digital integra os espaços de formação existentes. Apresentamos algumas hipóteses para explicar esta dificuldade de transformação das práticas e algumas outras para questionar a forma como os formadores concebem e gerem a engenharia de interfaces. Para tanto, utilizamos o quadro de capacidades. Por fim, analisamos algumas pistas de trabalho possíveis no domínio da formação de formadores.
Resumo
Os gémeos educativos digitais (DET) são ambientes virtuais de aprendizagem humana (VHE) que abrem novas perspectivas em termos de concepção pedagógica, aproximando-os da realidade profissional dos engenheiros. O gémeo digital é uma réplica digital de um objeto ou sistema industrial ou físico existente, que pode ser equipado com ferramentas operacionais para compreender, analisar e prever o funcionamento e o controle da entidade real. Pode tornar-se uma ferramenta didática. A integração dos NEJ, enquanto novo ambiente virtual de aprendizagem, implica um trabalho de concepção pedagógica destinado a criar situações de aprendizagem instrumentadas. Este artigo analisa o trabalho de concepção pedagógica realizado de forma colaborativa por engenheiros pedagógicos, professores-investigadores e programadores de TI no âmbito do projeto JENII (ANR-21-DMES-0006). Os dados da investigação baseiam-se em treze entrevistas semi-estruturadas com participantes no projeto, três entrevistas com engenheiros pedagógicos e na observação de três reuniões de concepção de cenários educativos com recurso a JNE. Os resultados permitem uma melhor compreensão da concepção colaborativa de dispositivos educativos, identificam os novos intervenientes na tecnologia emergente dos JNE e destacam as alavancas de ação para otimizar a engenharia educativa com tecnologias emergentes.
Resumo
A digitalização tem impulsiondo novas formas de atividade e tem transformado os espaços de trabalho. Isso muda a relação entre os funcionários. Este achado é ainda mais prevalente nas profissões de relações com os outros. Estávamos interessados em apoio profissional, a fim de responder à pergunta: Como o suporte à mudança digital se baseia nas relações com os outros? Existe uma falta de investigação científica sobre este tema, em particular para abordar a questão da postura dos atores e atrizes face aos impactos da tecnologia digital nas suas interações. O nosso estudo-espelho permitirá entrevistar mulheres prestadoras de cuidados e beneficiárias de um regime no âmbito da avaliação de competências. Realizamos entrevistas semi-estruturadas e analisamos o nosso corpus em duas etapas, utilizando o Iramuteq complementado com uma grade de entrevistas. A nossa análise é suportada pelos relatos textuais dos inquiridos. Mesmo que a tecnologia digital seja integrada nas práticas de apoio, o ambiente de trabalho torna-se menos capaz nas relações humanas. As mulheres acompanhantes encontram práticas inovadoras para manter uma forma de proximidade e os beneficiários adotam uma atitude facilitadora.
Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar como a digitalização do trabalho e as inovações tecnológicas influenciam as engenharias de formação e os processos de profissionalização na Licenciatura em Sociologia. Utilizou-se uma metodologia qualitativa baseada na Análise do Discurso Sociotécnico (ADS), que permite examinar a relação entre tecnologia e sociedade e como essas dinâmicas afetam a formação acadêmica em sociologia. Os principais resultados revelam uma resistência institucional significativa à adoção de tecnologias digitais (TD) e mudanças curriculares, bem como uma percepção da digitalização como uma solução temporária. Barreiras como a gerontocracia, a falta de infraestrutura tecnológica adequada, e um sistema de incentivos que desencoraja a colaboração foram identificadas. As conclusões destacam a necessidade urgente de modernizar o currículo de sociologia para incluir competências digitais avançadas e promover uma cultura de inovação. Recomenda-se implementar estratégias pedagógicas que incluam o uso transversal de tecnologias digitais emergentes, programas de formação contínua para professores e uma reforma curricular integral.
Resumo
Esta investigação analisa a transição das práticas de engenharia pedagógica na função pública do Quebec, com o objetivo de modelar as práticas ideais para encorajar a sua implementação e sustentabilidade num contexto pós-pandêmico. Utilizando uma abordagem metodológica qualitativa, realizamos entrevistas semi-estruturadas com 12 profissionais de 10 organizações públicas, selecionados pelo seu papel ativo no desenvolvimento da formação. Os resultados indicam que a adaptação dos cursos de formação às necessidades dos participantes e a consolidação das práticas pedagógicas são essenciais para que o ensino a distância seja eficaz. Embora se tenham registrado progressos na utilização da tecnologia e na formação de formadores, subsistem desafios em termos de qualidade, coerência dos conteúdos e formalização dos processos de concepção. No futuro, o estabelecimento de uma governação colaborativa e uma integração mais eficaz das ferramentas tecnológicas serão cruciais para garantir que a formação seja sustentável e adaptada a um ambiente em constante mudança.
Artigos de profissionais
Resumo
Na França, os INSPÉ (Institutos Nacionais Superiores de Ensino e Educação) formam estudantes para carreiras no ensino, na educação e na formação. Perante a crise que afeta o recrutamento e a formação de professores (Devos e Paquay, 2013; Dubet, 2020), o INSPÉ da Academia de Bordeaux, em colaboração com os INSPÉ das Academias de Poitiers e Limoges, experimenta há vários meses um dispositivo de criação de recursos pedagógicos sob a forma de vídeos 360°, com o objetivo de oferecer aos futuros professores uma aprendizagem experiencial, incorporada e situada. Este artigo baseia-se num estudo de caso relativo à implementação do dispositivo na formação de futuros professores documentalistas. Explora as principais etapas, desde a concepção dos conteúdos até à difusão dos recursos didáticos, passando pela gravação imersiva 360° num contexto profissional. Para além de analisar os resultados iniciais e as potencialidades e limitações deste dispositivo, o artigo abre pistas de reflexão sobre o impacto da tecnologia de vídeo 360° no envolvimento cognitivo, emocional e físico dos estudantes e sobre as dinâmicas de colaboração geradas por esta abordagem pedagógica inovadora.
Resumo
Este artigo analisa o impacto das tecnologias emergentes nas profissões da formação, com especial incidência na adaptação da profissionalização dos engenheiros educativos e dos formadores de adultos a partir de 2019. O artigo demonstra como as mudanças econômicas e políticas alteraram rapidamente a natureza do trabalho neste domínio, obrigando as empresas, num ambiente competitivo, a desenvolver as competências digitais dos formadores em exercício e as dos estudantes que terminam o ensino superior. Com base num modelo de engenharia multimodal que integra diversas práticas pedagógicas, realidade virtual e inteligência artificial, o texto apresenta a estratégia de ação e de resolução de problemas implementada num mestrado em França para gerir esta carreira em direção ao topo, reforçando a qualidade das utilizações digitais e sendo coerente com as competências que estão no cerne das profissões de interação com os outros para as quais os estudantes são destinados.
Discussões e debates
Resumo
O trabalho no domínio da formação de professores Tem se tornado digital e tem tornado mais fácil o acesso à inteligência artificial generativa , o que abre novas possibilidades. As transformações daí decorrentes são analisadas tendo como referência a situação de uma instituição que iniciou um projeto de inserção da formação contínua de professores numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. Esta contribuição mostra a utilidade de problematizar as transformações provocadas pela atividade técnica através de uma abordagem stiegleriana. Esta problematização leva-nos a ter em conta o desenvolvimento ao nível dos indivíduos (esta abordagem adverte contra o embrutecimento do indivíduo), dos colectivos (esta abordagem evidencia o risco de individualismo quando a tecnologia isola os indivíduos e provoca curto-circuitos ou impede os processos de deliberação colectiva) e das técnicas (esta abordagem permite-nos pensar na apropriação das técnicas pelos indivíduos e pelos coletivos, de modo a que estes continuem a poder participar na definição do ambiente que estrutura as suas práticas). A partir de um estudo de caso de um curso de mestrado, esta contribuição evidencia como esta problematização ajuda a orientar a concepção de situações de formação numa perspectiva de Aprendizagem ao Longo da Vida.